segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Bolo de noiva de Pernambuco


Resolvi fazer este poste, porque foi o aniversário da minha irmã e ela adora o tradicional bolo de noiva pernambucano, com muita ameixa, passas, frutas cristalizadas e, é claro, amor. O bolo abaixo foi do meu casamento em setembro de 1996.






Olha o texto maravilhoso de Letícia Cavalvanti sobre o Bolo de Noiva pernambucano:

“Cada lugar tem seu jeito próprio de celebrar casamentos. Só não mudam os bolos em volta dos quais a festa se dá. Foi sempre assim. Os primeiros tinham, quase sempre, a forma de pássaros. E eram flambados na cerimônia para afastar os espíritos ruins. O noivo comia parte de uma fatia, esmagando o resto na cabeça da noiva - simbolizando o romper do hímen e, sinal daqueles tempos, o domínio do homem sobre a mulher. As migalhas eram disputadas pelos convidados, segundo se acreditava para dar sorte.

Na Idade Média, vingou o costume de empilhar os vários pequenos bolos trazidos pelos convidados; e surgia assim, meio por acaso, o bolo em andares - oficializado pela primeira vez, em 1553, no casamento da florentina Catarina de Médici com o futuro rei Henrique II da França. Nos fim do séc. XIX, quanto maior e mais detalhes tivesse o bolo, e mais importante seria a festa. Chegavam a ter 200 kg, e mais de dois metros de altura.

Passa o tempo e esse bolo mantém nobreza e simbolismo. Há, nele, todo o mistério que marca o próprio ato de duas pessoas unirem seus destinos, em ritual parecido por toda parte. A primeira fatia deve ser cortada pelos noivos, de mãos juntas e já com alianças - representando, por sua forma redonda, a própria eternidade, ausência de começo ou fim.
São usadas no dedo anular da mão esquerda desde os egípcios - que acreditavam correr, nesse dedo, uma veia em direção ao coração. Têm todos a cor branca, na cobertura, simbolizando pureza e virgindade. Como são brancos hoje, os vestidos de noiva, imitando a cor dos bolos - por conta da rainha Vitória, que vestiu um de cetim debruado com as mesmas flores de laranjeiras que decoravam seu bolo.

No Brasil, bolos de casamento têm preparos diferentes. No Sul, a massa é branca e tem recheios variados - ainda herança do colonizador português. Diferentes dos de Pernambuco, com massa escura à base de vinho, ameixas, passas e frutas cristalizadas - herança dos ingleses.

Só para lembrar, esses ingleses chegaram por aqui no princípio do séc. XIX, com Great Western, Western Telegraph Company, Pernambuco Tramways and Power Company, Western of Brazil Railway Company e outras Companhias mais.

Além do bolo de frutas, nos ensinaram o chá das cinco e filé com fritas. Também a usar tropical inglês, linho diagonal branco (Taylor & 120), casimira, gravatinha borboleta, sapatos com polainas, chapéu de palha e bengalas.

Voltando aos bolos de casamento, aqui eles são quase sempre cobertos com pasta de amêndoa e recobertos com glacê branco. A moda chegou na Península Ibérica em 1906, com o casamento da princesa Victoria Eugenia de Battenberg (neta da rainha Vitória) com o rei da Espanha, Afonso XIII (avós paternos do atual rei Juan Carlos I). Sendo, por fim, decorados com flores em relevo feitas de goma e açúcar - herança da Ilha da Madeira.

E assim será, por muitos e muitos séculos mais, ao menos enquanto existirem casamentos, festas de casamento e um pouco de poesia neste mundo de Deus.”

Curiosidades
A quem diga que, em julho de 1980, quando o papa João Paulo II visitou o Brasil pela primeira vez, foi servido um café da manhã ao pontíficie  na tradicional Casa dos Frios. Dentre os pratos, havia um bolo de frutas de origem inglesa, confeitado com açúcar e com o símbolo do Vaticano.

Os bolos confeitados já chegaram por aqui utilizando como matéria-prima o açúcar, que foi durante séculos ligado à ostentação e riqueza. E como escreveu Gilberto Freyre sobre nossa tradição açucareira: “sem açúcar não se entende o homem do Nordeste”, não é de se estranhar que o ouro branco tenha casado com perfeição com a nossa realidade. Àquela época, o açúcar, na forma de glacê, ainda era vedete absoluta das coberturas bonitas e delicadas do bolo de noiva.  

Crença

O segredo de um bolo perfeito é a qualidade dos ingredientes utilizados e a dedicação dispensada ao seu preparo. Na verdade, muita dedicação. Leva-se quase uma semana desde o período dedicado a esmagar as passas no vinho por (dependendo da receita) 48 horas, até a decoração, feita geralmente com açúcar glacê, muito mais saborosa, ou com a moderna pasta americana.

“Tem que se usar um bom vinho, a cor do bolo tem que ser dada pela ameixa e não pelo chocolate. E deve-se trabalhar com manteiga, não pode ter margarina”. Deve-se cozinhá-lo lentamente, por horas a fio em forno brando para que não perca a sua umidade tão característica.

O preparo do bolo de noiva é quase tão ritualístico quanto a própria cerimônia que o justifica.

Por fim, os noivos deve congelar uma fatia para que seja novamente degustada um ano depois. A crença é que saboreá-lo no primeiro aniversário de casamento traz felicidade. Para os incrédulos, um estímulo: contam que um ano depois a iguaria ganha um sabor ainda mais intensificado.

Receita do Bolo de Noiva Pernambucano

Ingredientes
½ kg de açúcar refinado
½ kg de manteiga com sal
½ colher rasa (de sobremesa) de sal
9 ovos
½ kg de farinha de trigo
com fermento
500 ml de leite
200 g de achocolatado
Doce de ameixa (veja receita abaixo)
½ kg de frutas cristalizadas
½ kg de passas sem caroço (deixadas de molho em
750 ml de vinho moscatel por, pelo menos, 48 horas)
Dica: peneire os ingredientes secos

PREPARO
Bata a manteiga, com o açúcar e o sal, até que ela fique esbranquiçada.
Adicione as gemas uma a uma e siga batendo.
Acrescente a metade da farinha de trigo e a metade do leite.
Depois, a outra metade de ambos
Adicione o achocolatado.
Coloque o doce de ameixa, as frutas cristalizadas, as passas e ½ xícara do vinho em que passas estiveram de molho.
Bata tudo muito bem.
Acrescente manualmente as claras em neve.
Unte uma forma com margarina e polvilhe com farinha de trigo.
Leve ao forno preaquecido.
Faça o teste com um palito de dente: fure a massa e, se ele sair limpo, estará pronta.

COBERTURA
2 claras
½ kg de açúcar de
confeiteiro
Suco de 1 limão
Coloque os ingredientes na batedeira e bata até que a calda adquira consistência espessa de marshmallow.
Quando estiver pronto, cubra o bolo

DOCE DE AMEIXA
Bata ½ kg de ameixas sem caroço no liquidificador com 250 ml de água
Adicione ½ xícara de açúcar e leve ao fogo até ferver
Deixe esfriar para enfeitar.




Este eu fiz para minha irmã, acho que pode trocar o leite todo pela a mesma medida de vinho Moscatel. Fiz com metade de leite e completei com o vinho Não usei glacê, apenas peneirei um pouco de açúcar de confeiteiro e coloquei rapas de limão siciliano.